Maria Cristina Faber Boog

As informações sobre alimentação estão aí. Sites, revistas, jornais, rádio, televisão despejam incessantemente informações sobre alimentação. Informações são importantes, mas a informação, sozinha, não educa, apenas informa. E, às vezes, deseduca. O grande desafio hoje é a formação de valores e, para isso é preciso ensinar a pensar e não apenas fornecer e consumir informação.

E porque razão se vem tratar de formação de valores relativos ao campo da alimentação? Há tantos sites e programas falando sobre valor nutritivo de alimentos!

As crianças que frequentam escolas de educação infantil de alguns municípios aprenderam, durante as semanas que precederam a Páscoa, uma canção que causou grandes constrangimentos em quem está realmente comprometido com uma Educação Alimentar e Nutricional séria. Algumas professoras que conheço se indignaram, algumas nutricionistas também, e outras professoras se surpreenderam porque simplesmente não entenderam a razão da indignação e das críticas. Transcrevo a seguir a letra da tal música:

“Eu sou coelhinho Bossa Nova / Vou contar para vocês / Prá cenoura não dou  bola / Eu só tomo Coca-Cola / Coelhinho Bossa Nova / É uma brasa, mora! /

Chorar por uma cenourinha nha nha / Foi no tempo da vovó / Prá cenoura não dou bola / Eu só tomo Coca-Cola / Coelhinho Bossa Nova / É uma brasa, mora!”

Tudo o que se fala envolvendo alimentoscontribui para formar hábitos alimentares… para o bem ou para o mal! Infelizmente tem-se aí um péssimo exemplo. Portanto, é preciso refletir sobre o fato!

A letra dessa música presta um desserviço à educação em vários aspectos. Desvaloriza a cenoura que é um alimento saudável, faz propaganda de uma bebida cujo consumo jamais deveria ser incentivado no meio escolar e ainda desqualifica as avós e os valores defendidos por elas.  A música refuta a valorização da sabedoria dos mais velhos o que vai contra zelar pela dignidade do idoso.

A crise de valores em que se encontra  hoje a sociedade tem muito a ver com a falta de valorização e de respeito pela sabedoria dos mais velhos. Não se está falando aqui de conhecimento! Falo de sabedoria, que é o conhecimento marcado pela vida, pela experiência, depurado pelos acertos e pelos erros e, sobretudo, carregado de sentido. A avó que incentiva um neto ou neta a comer cenoura o faz com conhecimento e vivência, com amor e sabedoria. E, provavelmente, com pouquíssimo conhecimento  sobre a cenoura.  Por isso a letra dessa música reflete uma atitude de desrespeito para com as avós e é um acinte para com os idosos em geral. Vale ainda lembrar as sábias palavras de Cora Coralina: “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.”

A quem interessaria ensinar tal música? Pense a respeito…

Uma boa questão para se refletir, de forma que, na próxima Páscoa, valores mais condizentes com a saúde e o respeito aos idosos,  possam se fazer presentes nessa época de celebração da vida!

14/05/2014